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A importância de “ouvir”

14 de setembro de 2020

Quando os membros de uma família conseguem desenvolver entre eles uma comunicação eficaz, grande parte dos desafios e problemas podem ser enfrentados e superados, promovendose ainda o fortalecimento dos vínculos de confiança. Se em situações convencionais a assertividade na comunicação se faz tão necessária, a condição de distanciamento social a torna imprescindível. 

Considerando a amplitude deste tema e os inúmeros desdobramentos que o mesmo pode gerar, pretendo explorá-lo em etapas. Isto significa que, nos próximos textos, daremos continuidade ao assunto, pois seria menos proveitoso abordá-lo com a qualidade desejada numa única leitura. 

O primeiro aspecto que desejo destacar, no que se refere ao desenvolvimento de uma comunicação familiar assertiva, refere-se à capacidade de ouvir. Vou abordar um pouco mais a escuta dos pais (ou responsáveis) em relação aos filhos. Porém, a atitude de ouvir é fundamental em qualquer interação humana. 

A maior parte dos pais de crianças e adolescentes traz enraizada a ideia de que a educação dos filhos acontece na medida em que falamos a eles e agimos para que aprendam sobre o mundo, sobre seus direitos e deveres. Dessa forma, pressupõe-se que o adulto possui um conhecimento e uma experiência de vida que precisam ser transmitidos para os filhos e que essa transmissão poderia suprir todas as necessidades para uma boa formação e educação. Pouco se pensa em ouvir, em buscar compreender o universo infantil e tentar aprender com a criança ou adolescente. Inclusive quando se fala em ouvir mais os pequenos, muito se confunde esta ideia com tornar-se permissivo, perder seu lugar de autoridade, favorecer a indisciplina… 

Assim, comumente adultos supõem que as crianças não entendem direito as coisas, que elas não podem lhes ensinar, que seu jeito de ser e pensar (lúdico, intuitivo, inventivo) precisa ser moldado para o padrão da lógica e da racionalidade. O resultado desse modelo de educação geralmente é a criação de um distanciamento entre pais (ou responsáveis) e filhos, o qual vai culminar especialmente na adolescência e início da idade adulta, quando o sentimento mútuo de incompreensão e as ações ofensivas e defensivas se fazem muito presentes. 

O primeiro passo para evitarmos a reprodução desse modelo é aprendermos a ouvir mais, exercitando gradativamente esta capacidade e entendendo que crianças possuem um jeito de olhar e pensar diferente da lógica dos adultos, mas não menos válido. Precisamos nos desapegar da necessidade de falar e ensinar tanto (afinal, não é só isso que garante o aprendizado!), abrindonos para uma escuta mais sensível e acolhedora. 

Isto significa prestar atenção em como a criança se expressa, em suas palavras, gestos, brincadeiras, interesses, curiosidades, hipóteses. Neste processo de escuta e observação, nem sempre será necessária nossa intervenção, ou seja, nem sempre precisamos dirigir o pensamento dos pequenos para uma ideia ou compreensão que consideramos correta. Muitas vezes, com um pouco de atenção e disponibilidade, sem a intenção prévia de julgá-los ou corrigi-los, conseguimos entender como eles pensam e sentem. É muito importante que saibamos acolher e valorizar seus sentimentos, mesmo que eventualmente tenhamos que corrigir algumas de suas ações. 

Quando a criança percebe que o adulto a aceitou e compreendeu, mesmo que pense de outro modo ou não faça todas as suas vontades, o vínculo de confiança será fortalecido e aumentaremos muito as chances de sermos mais ouvidos e compreendidos também, quando isto se fizer necessário. 

Neste processo dialógico, não é só a criança quem aprende com o adulto, mas ambos aprendem um com o outro. Faz-se necessário exercitar a compreensão de que os pequenos entendem muito mais do que podemos supor. Eles entendem de um jeito próprio, muitas vezes diferente da forma como imaginamos, mas sem dúvida constroem uma compreensão acerca do que observam e experimentam. Por isso, de nada adianta ficarmos tentando incutir neles o nosso jeito de entender as coisas. Conforme já mencionado, esta atitude só distancia e gera uma falsa sensação de aprendizado. Mais eficaz será nos dispormos a entrar no universo infantil, conhecendo-o e respeitando-o, muitas vezes entrando em contato com a criança que ficou adormecida dentro de nós. Partindo daí, entenderemos melhor como nossos filhos pensam e sentem, aprenderemos mais com eles, modificando muitas de nossas percepções e podendo modular nossas falas e ações para contemplarmos as verdadeiras necessidades de nossas crianças. 

Vamos então aproveitar esse momento de intensificação da convivência familiar para ampliarmos e aperfeiçoarmos nossa capacidade de escuta? 

Para aqueles que desejarem, deixo duas sugestões de leitura relacionadas ao que foi exposto até aqui. Darei continuidade ao tema da comunicação familiar nos próximos textos.

Links para leitura complementar: 

1. Mais do que nunca, precisamos ouvir as crianças

2. Aprender com os filhos é possível? Veja como acontece essa troca

Alessandra Janz Cheron (Psicóloga Escolar)