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Buscando a assertividade na comunicação familiar

14 de setembro de 2020

Após analisarmos a importância da atitude de “ouvir” e de exercitarmos na família a capacidade de identificar e expressar sentimentos, vamos agora refletir sobre o valor da assertividade na comunicação familiar. Para quem não está habituado com o termo, podemos dizer que a assertividade é a capacidade de expressar o que se pensa e sente, de forma socialmente adequada, sem desrespeitar os direitos dos outros. Basta pensarmos um pouco para identificarmos, no contexto atual, quantos conflitos e problemas acontecem em decorrência de comunicações não assertivas, não é mesmo? Muitas vezes erra-se pela “falta”, pela negligência, ou seja, por se deixar passar “em branco” algo que precisaria ser conversado ou esclarecido. Em outros momentos erra-se pelo excesso de agressividade, quando uma das partes procura impor sua opinião ou percepção como verdadeira, em detrimento da ideia ou sentimento do outro. Certamente, no âmbito familiar, especialmente neste tempo de distanciamento social, caminhar em direção a uma comunicação assertiva é um de nossos maiores desafios. Quanto mais nos aproximamos dela, melhores e mais maduras ficam nossas relações. 

Gostaria de destacar dois pontos que precisam ser pensados quando desejamos conversar sobre algum tema que gera conflito ou discordância. O primeiro deles referese à escuta atenta da opinião ou ponto de vista do outro. Durante esta escuta, devemos procurar identificar aspectos com os quais concordamos com o outro ou, pelo menos, conseguimos entender / imaginar. Tomando todo o cuidado para não cairmos na tentação de assumirmos uma postura defensiva (aquela que tomamos quando nos sentimos ameaçados pela diferença de pensamento e opinião), devemos iniciar nossa fala por estes aspectos. Podemos dizer, por exemplo: “concordo com você quando diz …”, ou “entendo que se sinta … (triste, irritado, injustiçado, inseguro, etc)”, ou ainda “imagino que isto tem sido muito difícil para você…”. Dessa forma, iniciamos nossa fala demonstrando compreensão ou concordância com algum ponto identificado na expressão do outro. Esta atitude aumenta a probabilidade do outro também escutar melhor, pois, ao se perceber acolhido, suas reações defensivas também serão reduzidas. 

A seguir, podemos passar para o momento em que expressaremos nossas discordâncias, nossos contrapontos, quando iremos expor nossos próprios pontos de vista, nossos próprios sentimentos. Aqui está o segundo ponto que desejo destacar: ao colocarmos nossa opinião, precisamos evitar fazê-lo de forma acusativa, não podemos apontar para o outro com postura de julgamento ou acusação. Devemos nos manter focados em como nos sentimos ou percebemos a situação. Dessa forma, ao invés de dizermos: “mas você nunca…”, “mas você sempre…”, ou “você está errado…”, podemos dizer “quando você age assim, eu me sinto… (triste, irritado, frustrado, injustiçado, etc)”, “mas eu penso que…”, ou “esta situação me incomoda…”. Assim, mesmo que o outro discorde, não poderá se sentir atacado, pois focalizamos nosso discurso em nossas percepções e emoções. 

As ações propostas aumentam em muito as chances de que, gradativamente, haja maior escuta entre as partes, propiciando que ambas reflitam e gerem algumas mudanças positivas. Como já mencionei nos textos anteriores, mais do que estabelecer quem está com a verdade, o essencial é que se chegue a uma compreensão mútua e que todas as partes possam evoluir. 

Quando pensamos na comunicação com crianças e adolescentes, os dois pontos destacados também são fundamentais: precisamos ouvir como eles pensam e sentem, devemos acolher e demonstrar compreensão com o que expressam e, ao partirmos para os contrapontos ou ao abordarmos as ações que desejamos corrigir, é necessário fundamentarmos nossa posição, enfatizando o modo como nos sentimos ou como o outro se sente quando ele(a) toma aquela atitude. Ao invés de dizermos, por exemplo: “você sempre grita…”, “você nunca me escuta…” ou “você não ajuda”, podemos dizer “quando você grita, as pessoas se sentem irritadas, incomodadas…”, “quando você não me escuta, eu me sinto triste…” ou “quando você não ajuda, os outros se sentem injustiçados…”. Até mesmo as crianças pequenas podem se beneficiar com estes hábitos no processo de educação e orientação. É claro que nossa linguagem precisa se ajustar à idade das crianças, mas desde cedo tais ações irão ajuda-las a perceberem que suas atitudes causam consequências para o outro. Isto é fundamental para que se desenvolva a tão desejada capacidade de empatia, a qual será a base para que os filhos também consigam comunicar-se de forma assertiva com os pais e com todos. Quanto mais nos tornamos assertivos, mais ajudamos o outro a sê-lo também. 

Para quem deseja aprofundar um pouco este tema, deixarei um link com um texto muito interessante, escrito por um renomado psicólogo português, o qual traz considerações fundamentais para os adultos que desejam constituir relações mais saudáveis e maduras com seus cônjuges, filhos, familiares, amigos, enfim, qualquer relação humana certamente será beneficiada quando os envolvidos dedicam-se a buscarem a assertividade. Indicação de leitura: Utilizando comunicação assertiva como forma de amor Assim concluímos esta série de reflexões sobre a comunicação no ambiente familiar. Por se tratar de um tema muito complexo e desafiador, precisamos sempre manter nosso cuidado e atenção sobre ele, buscando leituras e conhecimentos que nos permitam a aproximação com a tão necessária assertividade. 

Alessandra Janz Cheron (psicóloga escolar)